A Polícia Civil instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias de um parto que terminou com duas gêmeas natimortas na Santa Casa de São Joaquim da Barra (SP). Com 38 semanas de gestação, a jovem Luana Ana Chaves, de 21 anos, perdeu as duas filhas após uma cesárea realizada no último dia 8.
A família da gestante registrou boletim de ocorrência por omissão de socorro alegando que a equipe médica foi negligente ao liberar a mãe por ao menos duas vezes antes de realizar o parto, mesmo diante de dores e sangramentos constantes.
Em nota, a Santa Casa informou que apura o caso, mas comunicou que a responsabilidade do parto é do médico.
Família alega omissão
Letícia Campos da Silva Barbosa, de 22 anos, relata que sua cunhada Luana estava bem até os sete meses de gestação, período em que começou apresentar sangramentos e perda de líquido com frequência.
Com esses sintomas, segundo ela, a jovem ficou internada pela primeira vez de 31 de outubro a 4 de novembro na Santa Casa, mas a equipe que a atendeu negou qualquer problema com a paciente e com os bebês.
Luana Chaves, de 21 anos, perdeu as duas filhas
(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
“Nesse período ela teve um pequeno sangramento, falaram que era normal. Eles acompanhavam o batimento o dia todo, garantiram que estava normal”, diz Letícia.
Um dia depois de ser liberada, na noite do sábado (5), Luana voltou a ter fortes dores e novamente foi levada à Santa Casa. “Não conseguia nem andar. Conseguimos colocá-la no carro e ela gritando de dor.”
Apesar de um pedido da família e ser levada para a sala de cirurgia, de acordo com Letícia, o médico que acompanhava a gestação receitou um remédio contra dilatação e disse que ainda não era o momento certo para realizar o parto.
“Mesmo com dor, ela foi pra casa, eles a liberaram. Fizeram ultrassom e toque nela e mandaram pra casa falando que estava tudo bem, pra ela tentar aguentar mais um pouco, porque estava muito cedo e ela foi pra casa no domingo”, conta a cunhada.
Dois dias depois, na terça-feira (8), Letícia relata que, ao urinar, Luana apresentou um sangramento mais forte do que antes e foi mais uma vez levada para a Santa Casa por volta das 18h. No hospital, a família afirma ter sido informada que os bebês já estavam mortos havia dois dias.
A cesárea realizada às 20h confirmou a constatação da equipe com as duas gêmeas natimortas. “O plantonista que a atendeu fez toque, disse que podia ser normal por causa do tampão [mucoso, que fecha o colo do útero e o proteger durante a gestação], mas quando fez o ultrassom não tinha mais coraçãozinho”, afirma Letícia.
Investigação
Na mesma data, a família de Luana registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil por omissão de socorro e solicitou, por conta própria, um exame necroscópico para apontar as causas da morte dos bebês. O laudo, de acordo com Letícia, sai em duas semanas.
O delegado Vinicius Alexandre Marini, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de São Joaquim da Barra, confirma ter instaurado um inquérito para apurar as denúncias e que oficiou a Santa Casa a entregar o prontuário médico referente ao atendimento da gestante.
Marini também deve ouvir a mãe das gêmeas, além dos médicos responsáveis pelo atendimento para avaliar se houve negligência ou se há evidências de que a gravidez era de risco.
“A Santa Casa já tem nosso ofício pedindo cópia do prontuário. A hora que chegar vamos analisar e vamos pedir a um médico legista avaliar com os exames que foram feitos”, afirma.